“Nós, brasileiros, já estamos hoje, há mais de dois meses no processo de quarentena, causada pela disseminação do Covid-19. Todos nós ainda estamos processando e nos adaptando às novidades. Mas, conversando com amigos e pessoas próximas, percebo que muitos de nós já estamos entendendo que precisamos esperar, que não temos o controle da situação externa. Estamos processando para termos mais paciência para viver o hoje, viver o presente”. Foi com essa constatação que a jornalista, mãe e terapeuta alternativa Renatha Melo, deu início à live na qual participou no dia 16 de maio, nos canais da @agdescomplica.
Uma das mudanças já percebidas por ela é que começamos a tomar consciência de que não temos controle do que está fora, mas só do que está dentro de nós, e, a partir disso, é provável que percebamos que cuidar de nós é importante para estarmos bem lá fora, no convívio com os outros. Outra mudança já perceptível é o fato das pessoas estarem desacelerando nesse controle. “Estamos aprendendo a esperar e viver conforme a situação que nos é apresentada. Temos o inesperado, como sempre tivemos, nunca tivemos o controle do futuro na mão, mas antes tínhamos essa sensação do controle, do futuro nas nossas mãos. Só temos o hoje, e temos que viver um dia de cada vez”, elucida.
Tem outra parte da população que continua ansiosa, talvez sejam em bolhas, como nós jornalistas, que precisamos estar ligados, disponíveis, os profissionais de saúde também. Mas quem não vive nessas bolhas como nós, ela percebe que já estão aceitando o fato de que é preciso esperar. Outras pessoas, seguem acreditando que essa é uma fase curta e que voltaremos a viver como antes. É com essas pessoas que ela percebe uma maior aflição, um maior sofrimento. Para Renatha, quem muito tenta controlar o futuro, está sofrendo mais agora.
O universo está nos mostrando que cada dia é um dia e que é preciso viver conforme as possibilidades. Isso é viver como os orientais sempre tentaram nos mostrar, viver o presente. Assim, construímos um futuro melhor porque nos entregamos ao presente, fazemos nosso melhor hoje, e isso vai reproduzir resultados melhores no futuro. A dica dela é: se entregue no seu dharma, na sua ação hoje, que tudo vai conspirar para te trazer os melhores resultados.
Renatha acredita que ter mais paciência e esperar é algo muito positivo que já está vendo na ação das pessoas. Uma das recomendações que ela traz é praticar a meditação. Do mesmo modo que ela é muito recomendada para todos, mas sobretudo para quem tem rotinas estressantes, talvez essa lição seja para nós, acostumados a viver dessa maneira afobada. “Esse é o grande exercício para nós. Eu, como jornalista, também passo por isso durante o dia. O nosso tempo corre mais rápido que o tempo dos outros. Aí eu respiro e penso o que eu posso fazer agora, diante dessa situação. Não tem como planejarmos tudo. Podemos organizar o dia de hoje e amanhã, mas aceitar que pode mudar”, pondera.
Renatha acredita que nada acontece por acaso. E se tudo isso aconteceu dessa forma abrupta, devemos agradecer porque essa pausa poderia ter vindo de outras formas, como guerras, de catástrofes naturais muito severas. Claro que veio com muitas dores para muitas pessoas, mas veio para nos recolhermos. A terapeuta traz uma reflexão interessante sobre o bambu, um dos principais símbolos da cultura oriental. Ele é uma das plantas mais fortes que existem, tem uma raiz profunda, mas é fino e forte. Sofre todas as adversidades, mas consegue sobreviver indo no fluxo, balançando e mudando a direção. Um dos legados disso tudo, segundo ela é: seja flexível, mude conforme seu dharma, conforme o que tem que fazer naquele momento.
Estamos há apenas dois meses nessa situação de pandemia. Imagine que a humanidade vinha há décadas, há muito tempo, em um processo de destruição doloroso. A água que fica turva porque houve um movimento, como fazer? Espera, deixa quieta. Vamos aprender que há momentos em que é preciso ficar quieto, sair de cena para que outros atuem. Não precisamos ser protagonistas o tempo todo. Vou ser flexível porque joguei uma pedra na água e ela está turva. Vou esperar a água ficar cristalina novamente para atuar. Isso não significa que estamos sendo negligentes ou preguiçosos. Isso é sabedoria, é dar espaço para os outros, que muitas vezes não damos. Muitas vezes queremos resolver tudo sozinhos. É preciso dar chance e momento para os outros atuarem.
Às vezes, pensamos que a nossa direção é uma, mas o corpo diz outra coisa. Com o som movimentado das nossas antigas rotinas, de correria, de carro, trabalho, não nos permitia ouvir nosso corpo. Ela lembra daquela sensação de quando entramos em um ambiente tenso, nosso corpo reage, trava, a garganta fecha, a cabeça dói. Esse voltar para a nossa casa interna, é para reaprendermos a ouvir nosso corpo e não dar um passo quando se tem que estar parado.
Para quem já tinha o hábito de realizar alguma prática ou exercício físico, por exemplo, me parece que o choque não foi tão grande. É complicado, de uma hora para outra, se mudar e mudar todo o resto. Afinal, são só dois meses. “Esse movimento nos diz o quanto é importante nos cuidarmos e isso reverberá no externo. Precisamos nos olhar e nos cuidar para que o coletivo consiga melhorar, voltar a ser saudáveis. Temos que encarar o autocuidado como algo muito importante. Um corpo forte, com a mente fraca, adoece. Um corpo fraco, com a mente fortalecida, suporta”, observa.
O grande legado que ela enxerga até agora desse processo de confinamento é o fato de que temos que cuidar da mente, não seguir a vida no automático, não cuidar somente do corpo físico. Budistas e hinduístas nos ensinam algo muito interessante, que é: sejamos equânimes. Nos ensinam sentir a felicidade, mas certos de que esse momento de euforia passará. Você pode vivê-lo, mas ele passará. Tanto o que é ruim e o que é bom passam. Não fiquemos nessa gangorra emocional.
E que estilo de vida passaremos a ter? O da auto-observação, Renatha acredita. “Estou percebendo que as pessoas estão realmente aproveitando a oportunidade de continuar praticando as atividades que já tinham, mas estão começando a perceber outras possibilidades, como a busca por meditação, ioga, práticas que até então eram consideradas menos eficazes. Estão de fato chegando na vida das pessoas e fazendo parte do estilo de vida delas”. Para finalizar a conversa, Renatha conduziu quem estava acompanhando a live, por momentos de respiração e meditação.
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