A psicóloga Paula Gabriela participou da live da @agdescomplica no dia 23 de abril e trouxe importantes constatações sobre nossa saúde mental neste período de confinamento. Psicóloga clínica, professora de Psicologia, especializada em estudos étnicos e africanos, ela faz parte de alguns movimentos e organizações que têm discutido racismo e saúde mental.

Falar de saúde mental em tempos de crise é praticamente uma redundância, na medida em que é um questionamento que todos os seres humanos estão de fato se fazendo neste período. “Todo espaço que temos para falar de saúde mental é importante. Geralmente,  damos muita importância, no dia a dia, a uma gripe, a uma dor de estômago, mas deixamos de lado nossa saúde mental. Agora, neste momento que estamos vivendo, percebemos que o distanciamento social tem impactado nossas vidas. É muito natural que nos sintamos estressados, ansiosos, sobretudo aqueles que já têm algum transtorno psicológico. Pessoas emocionalmente saudáveis também podem estar vivendo momentos de muito estresse, mas quando pensamos em pessoas que já têm algum quadro de ansiedade, depressão, precisamos pensar estratégias para minimizar os impactos disso”, explica.

Paula lembra que é importante dizer que saúde mental não significa não ter nenhum problema, nenhum transtorno. “Significa você se sentir bem considerando sua vida de maneira integrada. Falamos de autocuidado, afeto, mas o fato de falarmos tanto mostra o tanto quanto ainda é difícil vivenciarmos esse cuidado com nós mesmos”, diz Paula. 

Sobre as minorias, é importante dizer que há grupos que vivem situações de vulnerabilidade social e o racismo que dificulta a vida dos negros e negras, nessa situação agora não é diferente. Para Paula, o fato de vivermos em um país onde a desigualdade é grande, é preciso pensar o impacto que o racismo tem na saúde mental de todos os indivíduos negros. “Nós, eu e você, temos como medidas preventivas evitar a aglomeração e fazer a higienização de maneira correta. Mas para muitas pessoas não é possível fazer o isolamento, comprar um álcool em gel e se higienizar. O acesso à terapia e à Psicologia também não abrange a todos. Seria muito bom se todos pudessem ter um acompanhamento neste momento”, lamenta. 

Uma das soluções apontadas por ela é pensar e efetivar políticas públicas para atender às populações mais vulneráveis, as periferias, grupos de riscos, indígenas, quilombolas. “Precisamos pensar e fazer intervenções agora. Quando isso passar, e é passageiro, podem ficar efeitos muito catastróficos para algumas populações. Não temos ainda noção desses impactos nas periferias e favelas que não têm acesso à água e sabão, nas comunidades quilombolas, periferias, indígenas”, pontua Paula. 

A psicóloga deixou algumas dicas para quem está sofrendo com a ansiedade. A primeira delas é aceitar que não estamos em condições normais, estamos em um processo de adaptação. “É normal sentir ansiedade, medo. A ansiedade tem um papel importante porque nos mobiliza. Ela só é ruim quando vem de forma paralisante, mas é importante porque nos chama para a ação”. 

Algumas orientações são controlar o nível de informações que obtemos, sobretudo nas redes sociais. O fato de estar em casa não significa que se tem todo o tempo do mundo disponível. Quem trabalha ou estuda, precisa tentar manter minimamente a rotina. Trabalhar em outro ambiente que não o quarto. Reorganizar o ambiente, sentar, trocar de roupa, se comunicar com as pessoas. Ela observa que o convívio familiar dessa forma intensificada como está sendo, também pode ser um problema, pois provoca muitas discussões. “É importante fazer acordo, respeitar horários e o espaço dos membros da família. Tentar fazer o que gosta, como ouvir uma música, assistir a um filme também é importante”, diz.

Manter uma rotina, mas não necessariamente ser produtivo. Não precisamos ter uma visão romântica de que é preciso produzir muito. Tem quem acorde, faz uma lista enorme de afazeres, e no fim do dia se sente desapontado porque não conseguiu cumpri-la. “Mantenha uma rotina e uma lista de coisas possíveis, no seu tempo, dentro das sua condições, sem que isso gere culpa”. 

O mais importante: quem achar que mesmo assim, está muito estressante, muito difícil manter uma rotina, pode pedir ajuda, procurar atendimento. O Conselho Regional de Psicologia, inclusive, tem disponibilizado profissionais para realizar atendimentos gratuitos e voluntários neste período. “Se o seu nível de estresse está muito alto, procure ajuda. Precisamos reconhecer nossos limites e saber pedir ajuda nos momentos em que não conseguimos lidar com isso sozinhos”, observa a psicóloga. 

Sobre o que essa pandemia pode nos ensinar, ela é enfática: “torço para que quando sairmos dessa crise, consigamos seguir com essas reflexões e continuar pensando no autocuidado, pois somos muito negligentes com nossa saúde mental”, finaliza.

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